Um enigma em Nuremberg

A história de Kaspar Hauser sempre chamou minha atenção. Para quem não conhece ou não se lembra, Kaspar Hauser é o garoto que apareceu em 1828 em uma praça da cidade de Nuremberg. Aparentava ter aproximadamente 15 anos, usava roupas que indicavam uma origem nobre e possuía uma carta de apresentação à um capitão da cidade solicitando que lhe conseguisse um emprego.
O jovem não era capaz de pronunciar ou compreender qualquer idioma, mostrava-se assombrado com tudo e com todos, logo foi tido como louco e encarcerado. A única coisa que sabia escrever era "Kaspar Hauser", de forma que concluíram ser esse seu nome. Um estudioso local se interessou pelo caso do garoto e começou a estuda-lo. Em pouco tempo Kaspar Hauser aprendeu um idioma e sua história começou a se revelar.
Ao que tudo indica ele ficou preso em um quarto escuro sendo alimentado com pão e água durante os primeiros anos de vida, sendo que um dia seu carcereiro o vestiu entregou a carta e o levou até a borda da cidade de Nuremberg, seu único brinquedo era um cavalo de madeira.
Tendo em vista o modo como foi criado à parte da sociedade Kaspar Hauser desenvolveu interessantes características como a incapacidade de distinguir sonhos de realidade, uma imensa sensibilidade à qualquer fonte de luz, rejeição total à carne e cerveja.
Kaspar Hauser foi tido como impostor por grande quantidade de pessoas, embora todas as tentativas de desmascará-lo (algumas delas verdadeiras torturas) tenham fracassado. Ademais diversos incidentes colocaram mais mistério em sua história, como o Conde que passou a demonstrar grande interesse pelo garoto, e a frustrada tentativa de assassinato na casa de seu mentor.
O jovem teve seu infeliz fim no inverno de 1833, e embora sua origem nunca tenha sido totalmente desvendada, muitos acreditam que ele era membro da família real de Baden.
Jacob Wassermann, nascido em 1873, publicou "Kaspar Hauser" em 1903, ou seja 70 anos após findos os eventos. A própria história já é por si só intrigante, mas inestimável é também o valor do livro em termos de narrativa e descrição
Não há muitos diálogos no livro, tampouco descrições físicas. O que temos é uma rica analise dos eventos sob uma ótica mais emotiva, ademais o autor demonstra grande habilidade ao analisar psicologicamente os personagens, ele busca revelar o melhor e o pior da essência humana nessas análises. Essa análise psicológica e filosófica dos personagens acaba se mostrando o grande marco da obra. Aqueles que apreciam este tipo de leitura terão certamente grande deleite pelo livro de Wassermann.

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