O Silêncio dos Cordeiros

Muitas pessoas não se lembrarão do nome de Clarice Starling, mas serão poucos os que não reconhecerão o nome do Dr. Hannibal Lecter. O canibal Hannibal Lecter foi imortalizado por Anthony Hopkins no cinema com o filme "O silêncio dos Inocentes" e marcou presença posteriormente nas sequências "Hannibal" e " Dragão Vermelho".
O serial killer apareceu pela primeira vez em 1981 no livro 'Red Dragon' (Dragão Vermelho) de Thomas Harris. Hannibal Lecter exercia um papel secundário mas essencial na trama. Sua aparição seguinte veio em 'Silence of the Lambs' (O Silêncio dos Inocentes) em 1988. Posteriormente seriam lançados 'Hannibal', em 1999, e 'Hannibal Rising' (Hannibal, a Origem do Mal) em 2006.
Exceto por 'Hannibal, a Origem do Mal', os outros três livros formam uma sequencia (embora nada te impeça de ler os livros fora da ordem, ainda mais para aqueles que viram os filmes, é esperado que você esbarre com fortes spoillers dos vollumes anteriores).
Em O silêncio dos inocentes, Clarice Starling é uma agente em treinamento no FBI. Seu envolvimento na trama se inicia quando o Chefe de Seção, Jack Crawford, pede que proceda uma entrevista com o infame serial killer, Hannibal Lecter.
O ex-psiquiatra inicia um enigmatico jogo com a jovem Starling, onde passa a dar dicas sobre a pessoa de Buffallo Bill, um assassino em série que matava e esfolava jovens por todo o país.
O livro tem dinâmica bem similar à do filme, que se mostrou bem fiel ao texto. Os dialogos entre Starling e Lecter são marcantes e densos, e a personalidade da agente especial se mostra floreada e bem desenvolvida.
Para aqueles que apreciam uma boa literatura de suspense, é uma excelente opção.

A charada de Daniel Kahneman

No século XXI a ideia de um ideal de felicidade está viva como nunca. Seja no cinema e na literatura onde se retrata um virtual direito à felicidade que todo ser humano deveria almejar. Seja nas redes sociais, onde a palavra alcançou um novo patamar de senso comum, vista em frases feitas que lá circulam sem restrições ou argumentação crítica por parte de seus leitores.
Mas o conceito de felicidade está longe de ser algo simples e facilmente identificavel. Na verdade, a ideia de felicidade carrega consigo uma série de armadilhas cognitivas, que dificultam sua analise racional.
É o que afirma Daniel Kahneman, fundador da Economia Comportamental e ganhador do prêmio nóbel, em uma palestra de 16 minutos proferida na TED 2010. Encontrei com o texto na mais inusitada das circunstâncias. Comentei com uma amiga que não sabia ao certo onde passar minhas ferias de meio do ano, que serviriam também para marcar a formatura de meu curso. Ao invés de uma opinião direta, recebi o link para o vídeo onde se via a palestra de Kahneman.



Para aqueles que não sabem, TED (Technology, Entertainment and Design) é um conjunto de conferências que tem o propósito de "disseminar ideias". Teve sua primeira realização em 1984, e a partir de 1990 se tornou um evento anual. Em 2010 o evento contou com a participação do economista Daniel Kahneman. O tema de Kahneman era sobre a felicidade e, mais especificamente, sobre o eu da memória vs. o eu da experiência. De acordo com o economista comportamental, haveria uma distinção entre a felicidade experimentada pelo eu da experiencia, (aquele que vivencia o instante) da satisfação experimentada pelo eu da memória, (aquele que depende do simbólico do passado).
Quando pensamos em felicidade, pensamos geralmente considerando o eu da memória. Para o eu da memória, o resultado total da história pode ser mais importante que a intensidade das sensações. Uma ótima viagem que tenha um final infeliz pode se tornar uma péssima viagem para o eu da lembrança. Ele demonstra a importância da lembrança com um questionamento: Suponha que após suas férias, todos os seus albuns de fotos serão destruídos, e que você não vai se lembrar de nada do que lá acontecer, você ainda vai querer passar as férias no mesmo lugar, ou escolheria outro lugar para passar suas férias?
É difícil absorver por completo a significância das ideias de Kahneman, e embora não tenham resolvido o problema de minhas férias, me deram uma nova perspectiva acerca de como considerar experiências e vida.

É o final da vida e o início da sobrevivência.


Isto não é uma resenha, é a transcrição da carta escrita por touro sentado, líder dos Sioux, uma resposta à proposta de compra das terras indígenas feita pelo presidente dos EUA em 1854.
Publico estas palavras para que aqueles que já a conhecem possam lembra-las, e para que os que não a conheçam possam descobrí-las. Elas nunca perderão seu valor, e não devem ser esquecidas.


"O QUE OCORRER COM A TERRA,
RECAIRÁ SOBRE OS FILHOS DA TERRA.
HÁ UMA LIGAÇÃO EM TUDO"



Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra?

Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?

Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho. Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas.

Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sucos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem a mesma família.

Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra.

Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós. Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo.

O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos, e seus também. E, portanto,vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem a noite e extrai da terra aquilo que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa pra trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda.Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.

Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas a primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos.

E o que resta da vida se um homem não pode ouvir um choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, a noite? eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.

O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebi seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.

Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.

Vocês devem ensinar as suas crianças que o solo a seus pés, é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças, o que ensinamos as nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo que acontecer a terra, acontecerá aos seus filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.

Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence a terra.

Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.

Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde está a águia? Desapareceu.

É o final da vida e o início da sobrevivência.

Um enigma em Nuremberg

A história de Kaspar Hauser sempre chamou minha atenção. Para quem não conhece ou não se lembra, Kaspar Hauser é o garoto que apareceu em 1828 em uma praça da cidade de Nuremberg. Aparentava ter aproximadamente 15 anos, usava roupas que indicavam uma origem nobre e possuía uma carta de apresentação à um capitão da cidade solicitando que lhe conseguisse um emprego.
O jovem não era capaz de pronunciar ou compreender qualquer idioma, mostrava-se assombrado com tudo e com todos, logo foi tido como louco e encarcerado. A única coisa que sabia escrever era "Kaspar Hauser", de forma que concluíram ser esse seu nome. Um estudioso local se interessou pelo caso do garoto e começou a estuda-lo. Em pouco tempo Kaspar Hauser aprendeu um idioma e sua história começou a se revelar.
Ao que tudo indica ele ficou preso em um quarto escuro sendo alimentado com pão e água durante os primeiros anos de vida, sendo que um dia seu carcereiro o vestiu entregou a carta e o levou até a borda da cidade de Nuremberg, seu único brinquedo era um cavalo de madeira.
Tendo em vista o modo como foi criado à parte da sociedade Kaspar Hauser desenvolveu interessantes características como a incapacidade de distinguir sonhos de realidade, uma imensa sensibilidade à qualquer fonte de luz, rejeição total à carne e cerveja.
Kaspar Hauser foi tido como impostor por grande quantidade de pessoas, embora todas as tentativas de desmascará-lo (algumas delas verdadeiras torturas) tenham fracassado. Ademais diversos incidentes colocaram mais mistério em sua história, como o Conde que passou a demonstrar grande interesse pelo garoto, e a frustrada tentativa de assassinato na casa de seu mentor.
O jovem teve seu infeliz fim no inverno de 1833, e embora sua origem nunca tenha sido totalmente desvendada, muitos acreditam que ele era membro da família real de Baden.
Jacob Wassermann, nascido em 1873, publicou "Kaspar Hauser" em 1903, ou seja 70 anos após findos os eventos. A própria história já é por si só intrigante, mas inestimável é também o valor do livro em termos de narrativa e descrição
Não há muitos diálogos no livro, tampouco descrições físicas. O que temos é uma rica analise dos eventos sob uma ótica mais emotiva, ademais o autor demonstra grande habilidade ao analisar psicologicamente os personagens, ele busca revelar o melhor e o pior da essência humana nessas análises. Essa análise psicológica e filosófica dos personagens acaba se mostrando o grande marco da obra. Aqueles que apreciam este tipo de leitura terão certamente grande deleite pelo livro de Wassermann.

A Floresta de Edward Rutherford

Encontrei este livro por acaso em uma biblioteca, o nome me chamou a atenção, e uma vez que tudo indicava ser um romance histórico, iniciei a leitura. É imperativo dizer que não me arrependi.
O livro é composto por nove contos, todos interligados, uma sequência histórica de mil anos que se passa em New Forest, Inglaterra. Não espere ler algo semelhante à outros romancistas históricos, que tendem a se concentrar em eventos de grande magnitude, como a guerra, o estilo de Rutherford se mostra bem mais casual e cotidiano. Porém, não se permita subestimar "A Floresta" por isso, trata-se de um dos mais agradáveis livros que já li. Nele a ficção se mistura com o real e a beleza das narrativas e principalmente a pulsante descrição dos cenários faz com que se vivencie uma total imersão na cultura de New Forest.
Analisemos porém os contos detidamente.

A Caçada

Na verdade o primeiro conto do livro é entitulado "A pedra de Rufus". Entretanto, uma vez que se trata mais de uma historieta introdutória, que tem seu desenlace apenas no último conto "A Floresta", hei de analisá-lo ao final.
A Caçada se inicia no ano de 1099. Guilherme, o normando que havia conquistado a Bretanha estava morto e Rufus governava. O governo de Rufus era frágil e já houvera atentados contra sua vida, seus irmãos ambicionavam seu trono e ele ambicionava conquistar a Normandia. Entretanto este é apenas o plano de fundo. A história em si gira em torno de Adela Martel, personagem fictícia, que seria irmã de Walter Martel. Adela é normanda e foi enviada a bretanha com o intuito de que seu irmão Walter, um homem com várias conexões, lhe consiga um casamento. Uma tarefa difícil uma vez que Adela não possui dote.
Mas esse não é o ponto forte da história. O chamativo neste conto é a própria floresta, nessa época era reserva de caça do rei, tal qual fora durante o domínio saxônico. Em paralelo à história de Adela, Rutherford tece a curta história da gama clara, descrevendo os hábitos desses magníficos animais com riquíssima descrição e detalhe. E, claro, a caçada em que participarão Adela e Walter, onde uma centena de animais será morta e o destino da gama e de Adela se entrelaça.
A história pode parecer lenta a princípio, mas possui um desenlace inesperado.

Beaulieu

O conto seguinte se inicia no ano de 1294. Muitos dos personagens descendem de personagens do conto anterior, e será assim ao longo de todo o livro. A história se passa no mosteiro cisterciense de Beaulieu, e o personagem central é o irmão Adam, favorito do abade, e ao que tudo indica, o futuro abade.
Três fatos centrais marcam o conto. Um dos monges, Luke, durante uma discussão nas granjas atinge acidentalmente seu supervisor, o irmão Mathew, com uma pá. Após o incidente Luke foge temendo a punição O prior alerta a corte da Floresta, e informa que o mosteiro exige a captura e condenação de Luke.
A disputa pelo pônei é o segundo evento. Pride encontrou um pônei na floresta, e pela lei da Inglaterra este passa a lhe pertencer, o problema é que Furzey afirma que o pônei lhe pertencia e que Pride o teria furtado. Para piorar a disputa, a esposa de Furzey é irmã de Pride e parente de Luke, a quem oferece abrigo em segredo quando este foge do mosteiro. E o terceiro evento, o irmão Adam se apaixona pela esposa de Furzey.
Não é o melhor dos contos, mas tem um belo final. Não é um final feliz, e também não é um final triste. Apenas um belo final.

Lymington

O conto de 1480 toma como plano de fundo as diferenças de classes sociais na Inglaterra do séc. XV. Jonathan Totton é filho de comerciante burguês que vive na cidade de Lymington na costa da floresta. O sr. Totton têm uma constante preocupação em mente. O filho, além de não se interessar pela profissão que deverá seguir no futuro, tem andado com o filho de um dos pescadores locais, Alan Seagull, homem de baixa classe social.
Em uma noite na taverna Henri Totton e Sr. Burrard fazem uma aposta. Uma corrida entre um navio de Totton e o barco de Seagull. Apostas eram comuns em Lymington, o incomum era o valor da aposta 5 libras, uma pequena fortuna.
Esse conto é um dos melhores em minha opinião. A trama é muito bem elaborada, é como se você acompanhasse o jovem Totton em seus passeios pelo cais, ou na caçada ao dragão de Bristerne (a lenda do dragão era real, no conto Rutherford explica sua origem) e o final é o que mais surpreende dentre os contos.

A Árvore da Armada

O ano é 1587. Elizabeth estava no trono da Inglaterra. Após 5 anos do reinado de Maria Tudor, a rainha católica que ficou conhecida como 'Blood Mary', o povo dera boas vindas à filha de Ana Boleno. Mas nem todos. A ascensão da nova rainha era um duro golpe no movimento católico inglês, o Papa a amaldiçoara e dera sua bênção a qualquer Estado interessado em atacar a Inglaterra. Apostava-se que esse Estado seria a Espanha. Sendo uma das maiores potências da Europa e com uma armada apelidada de a “Invencível”, não se acreditava que a Grande Ilha fosse capaz de vencer uma guerra após os vários confrontos internos de origem principalmente religiosa que enfrentou.
A mãe de Clement Albion certamente torcia pela Espanha. Ela se encontrava de luto desde a morte de Maria Tudor. A Sra. Albion não gostava de Elizabeth e sonhava em ver o catolicismo de volta à Inglaterra; ademais, para desespero de seu filho, não se preocupava em esconder suas opiniões.
Com a invasão espanhola iminente as coisas se tornavam ainda mais complexas, Clement suspeitava que estava sob vigília, inclusive por parte de seu amigo, o capitão de Hurst Castle, Thomas Georges.
Como se isto não bastasse, a Sra. Albion fez ao filho o favor de garantir aos espanhóis que ele, como comandante da milícia em Lymington se aliaria aos mesmos quando a invasão começasse, garantindo-lhes um desembarque seguro. Aquela simples declaração, Clement sabia, era o suficiente para que perdesse a vida.
Paralelamente Nicholas Pride é agora membro da milicia. Sua responsabilidade é guardar o farol e acendê-lo caso os espanhóis desembarquem, está orgulhoso de sí, ainda mais agora que pretende pedir a jovem Jane em casamento.
Essa historia é mais rápida e linear que as outras. Embora tenha algumas reviravoltas não conseguiu me surpreender, e o final não me apeteceu. A parte realmente histórica mostra-se bem mais interessante do que a ficção criada por Rutherford, embora algumas descrições e trechos sejam dignos de nota. Como a descrição dos grandes carvalhos.

Alice

Belíssimo conto. Grande parte dele foi baseado em fatos reais, Alice Lisle, principal personagem da história, realmente existiu, assim como a trama que a circunda. O autor coloca Alice como sendo descendente dos Albion, tendo se casado mais tarde com John Lisle.
O conto se passa durante e após a revolução gloriosa de Cromwell. John Lisle torna-se grande aliado de Cromwell, e indiferente aos apelos da esposa toma participação direta na revolução. Ele teria inclusive redigido a acusação final, com base na qual o rei Carlos Stuart teria sido executado (embora o autor venha a desmentir esse fato em seu prefácio).
Nessa mesma época o Coronel John Penrudock é acusado de alta traição por tramar o retorno da monarquia e a queda da república de Cromwell. Os Penrudock pedem ajuda aos Lisle, que seriam próximos a Cromwell, porém eles nada conseguem.
Com a morte de Cromwell os monarquistas retomam as rédeas da Inglaterra, e Carlos II assume o trono, os Lisle, assim, se tornam os traidores. John foge da grande ilha para não mais voltar, enquanto Alice vê grande parte de suas terras serem tomadas pelo novo governo. Mais tarde, próximo ao fim Alice enfrentará um triste julgamento, o absurdo da decisão do juiz e os métodos da corte estão registrados, e servem de exemplo sobre como a lei pode ser distorcida em épocas de grande tensão.
Creio que é o bastante sobre este conto, é certamente o mais triste dentre eles, e o mais acurado historicamente.

Albion Park
A história agora chega em 1784. A Sra. Grockleton sonha em se entrosar na alta sociedade, e para isso cria um colégio para moças, onde essas aprenderão francês e boas maneiras. O Sr. Grockleton por outro lado não se interessava por isso, e certamente não nutria as esperanças da Sra. Grockleton. Ele trabalhava como agente aduaneiro, sua função era fiscalizar o transporte e a comercialização de produtos, em especial o chá. O fato é que os mercadores faziam uso dos mares mas não estavam dispostos a pagar as altas taxas cobradas pelo governo.
Grockleton não era muito bem sucedido em sua função, mas ninguém com cargo semelhante o era. O contrabando de chá Brandy contava com apoio da população, dos mercadores, políticos, nobres, clérigos... em suma toda a sociedade o aceitava. Embora fosse claramente ilegal, os ingleses dificilmente consideravam o contrabando imoral. Mas Grockleton não discutia isso, era seu trabalho cessar o comércio ilegal e era isso que tencionava fazer. Ele planeja capturar um dos comboios dos contrabandistas e para isso tem um plano que não pode falhar.
Vivia em New Forest nessa época Fanny Albion. Fanny era descendente de Alice do conto anterior, e morava seu pai, já bem idoso, e com sua tia na antiga propriedade de Albion Park. Fanny é uma bela garota já em idade para se casar. Ela é bem próxima de Willian Gilpin, um velho sacerdote e professor que criou uma pequena escola nas redondezas. Em uma viajem com Gilpin à Oxford, para conhecer a universidade, Fanny conhecera o homem por quem irá se apaixonar.
Esse romance se tornará o andamento principal da história, embora não se possa, em hipótese alguma menosprezar os outros pontos do conto. Nele se verão diversas reviravoltas e alguns eventos inesperados, sendo que o próprio passado da família Albion virá para atormentar Fanny.
Rutherford trabalha o suspense nessa história de uma maneira interessante, ele nos deixa intrigados, principalmente com o plano de Grockleton e o destino de Fanny.

Pride da Floresta

O ano é 1868. O governo Inglês começa a entender o valor da Floresta, ou melhor dizendo, de suas árvores. O parlamento determinara o extermínio dos gamos e iniciou um plano para aproveitar melhor as terras de New Forest, plantando o maior número de árvores possível nas áreas férteis. Essas medidas, porém ameaçam seriamente o estilo de vida dos habitantes da floresta e aí entra em cena o coronel Godwin Albion. O conto inicia com a viagem de Albion à Londres, no intuito de convencer o Parlamento dos danos que causarão as últimas medidas tomadas pelo responsável pela região da floresta, o Sr. Cumberbatch.
Para ajudá-lo a convencer o parlamento o Coronel Albion se fará acompanhar por um de seus arrendatários, o Sr. Pride. Pride (orgulho em inglês) é um típico habitante da floresta, ele se mostra fiel à causa de seus conterrâneos, a despeito do fato de seu filho trabalhar para Cumberbatch. Os dois mal se falam desde que George conseguiu esse emprego, e tudo tende a piorar, já que a intervenção de Pride, pode custar o emprego do garoto.
Mais uma vez o autor realça a beleza dessa região da Inglaterra, e nesta passagem específica em como ela quase se perdeu pela voracidade econômica do governo.

A Pedra de Rufus e A Floresta

Como eu disse o conto inicial se intitula 'A pedra de Rufus' e sua história finaliza na última parte 'A Floresta'. A primeira parte, é preciso que eu diga, quase me convenceu a não ler o livro. Passa-se no ano 2000, Dottie Pride viaja à New Forest em busca de uma reportagem para seu chefe John Grockleton. Nada promete a primeira parte. Na segunda entretanto, um belo fechamento. É rápido, não há tramas desenvolvidas e os personagens não são muito trabalhados, mas nos dá uma bela visão da New Forest contemporânea. Como eu disse, apenas uma leve introdução e conclusão do livro, mas que com o todo se harmonizam de tal forma que tornam o livro completo.
A Floresta é certamente uma magnífica obra, que merece lugar de destaque.

O Dossiê Pelicano

Publiquei a tradução de minha resenha 'The Pelican Brief' no schvoong. Achei por bem então disponibilizar a tradução aqui também. Quem quiser conferir o site original é este 'O Dossiê Pelicano'.

Renomado autor de 'best sellers', John Grisham grande quantidade de obras. Ele é conhecido pelo suspense e por suas elaboradas tramas de conspiração.
Neste livro o escritr conta a história de Darby Shaw, estudante de Direito pela Universidade de Tulane. Darby é apenas mais uma estudante, talvez a excessão seja o caso que possui com o professor Thomas Callahan.
Quando um assassino profissional conhecido por Kammel mata dois juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos, Darby, como muitos estudantes ao redor do país, começa uma pesquisa em busca daqueles que se beneficiariam das mortes, em uma tentatia de encontrar os assassinos. É durante essa primeira semana de pesquisa que Darby Shaw elabora um dossiê, que viria a ser conhecido como o dossiê pelicano.

O dossiê acaba nas mãos do FBI, da casa branca, e finalmente da CIA. Darby se vê então envolvida em um cículo de conspiração e assassinato, ela terá de usar todos os meios ao seu alcance e contar com a sorte para sobreviver.
Embora com pobres descrições, uma infeliz, embora perdoável falha de Grisham, ele nos compensa com uma intensa e impressionante seqüência de eventos. Se você procura por um texto profundo e filosófico, esta não é sua melhor escolha. Entretanto, se tudo o que procura é um pouco de ação e entreterimento, esta é uma excelente opção.

The Pelican Brief

A renowned best seller, John Grisham writhed a great amount of titles. He is known by the suspense and by its elaborated conspiracy plots.
In this book, the author tells the history of Darby Shaw, a law student at Tulane's University. Darby is just an ordinary student with an affair with her professor Thomas Callahan. When a professional murderer called Kammel kills two judges of the Supreme Court of The United States, Darby, as several students from all over the country, starts to search for who would be benefited from the deaths, in an attempt to find out the murderer. It was during this first week of research that Darby Shaw elaborates the brief that would come to be known as the Pelican Brief.
The brief find its ways to the FBI, the White House, and finally CIA. Darby is then dragged into a circle of conspiracy and killing, she will have to use all her skills and count with a bulk of luck in order to survive.
Although with poor descriptions, an unfortunate, although forgivable fail on Grisham, he compensate us with an intense and impressive sequence of events. If you are looking for a deep and philosophical text, this is not your best choice. However, if all you seek is a little of action and entertainment, this is a great option.

-Este texto foi originalmente publicado, sob o pseudonimo de JimmyDomini em http://www.shvoong.com/books/mystery-and-thriller/2071464-pelican-brief/